Os estigmas da mulher separada

Estamos na segunda década do Século XXI, mas percebo que ainda existem muitos tabus em relação ao divórcio, principalmente associados à uma visão de derrota, de uma relação que não deu certo. São preconceitos que persistem, especialmente no caso das mulheres; lembrando que a lei do divórcio foi promulgada em 1977.

É óbvio que quando as pessoas se casam, o intuito é manter a relação até o fim da vida. Mas entre o casamento e o fim de uma vida há muitas situações que podem mudar o rumo da história. E isso não pode ser entendido como um erro. Talvez, algumas relações se acertem exatamente quando o casal se separa; do contrário, a caminhada poderia ser, de fato, muito ruim, muito triste para ambos. É importante entender isso para não ficarmos na busca de explicar o inexplicável.

No passado – e ainda uma realidade em muitos núcleos sociais -, havia a ideia de que mulher saía de casa para o altar já com a sentença de “produto sem devolução”. As preocupações por trás dessa sentença talvez estejam relacionadas ao aspecto financeiro. O marido assumia o papel de provedor da casa. Significava dizer que a mulher, caso o casamento terminasse, é que deveria assumir as responsabilidades pelo seu  próprio sustento.

Outro estigma social que ainda persiste é a ideia de que a mulher solteira, a mãe solteira, separada ou divorciada, é alguém que “não segurou o casamento”. Historicamente, a mulher separada não era bem vista, era sinônimo de leviana e, até mesmo, representava um risco para outros casamentos. Não era bem-vinda socialmente. E todos esses estigmas e preconceitos tomavam – e tomam ainda, em muitos casos – uma proporção maior quando a mulher tem filho.

É óbvio que atualmente todos esses preconceitos são bem menores ou praticamente desapareceram, dependendo do meio social que essa mulher frequenta; mas o fato é que, no geral, ainda existem e também estão por trás do sofrimento de quem se separa e não quer passar a ser vista dessa forma, como alguém que não deu certo.

Existe ainda a dificuldade da mãe solteira de seguir sua vida, mantendo suas amizades e o direito a cultivar seus hobbies e diversão. É fato que quando muitas pessoas encontram ainda hoje uma mãe se divertindo ou viajando sem o filho, a pergunta logo é: onde seu filho está? Isso porque o papel do cuidado com a criança está intrinsecamente ligado à mãe, o que certamente não acontece com o pai. A percepção ainda é de que esse papel é totalmente atribuído à mãe.

Apesar desses preconceitos estarem diminuindo com o tempo, com as conquistas femininas de autonomia e liderança no trabalho e em sociedade, esses estigmas ainda são evidentes. E são também um peso a mais em um momento tão crítico e conflitante que é o do rompimento da relação conjugal.

É importante que a mulher se liberte das amarras sociais e entenda que ser separada não significa que algo tenha dado errado em sua vida. A mulher separada, a mãe solteira, todas têm o direito de usufruir de momentos de lazer, independente de terem filho ou não; e devem seguir suas vidas sem o peso desses preconceitos. São conquistas que, certamente, farão o processo da separação e do divórcio ser encarado de forma bem mais salutar.

* Daniel Lacerda é Psicólogo Clínico, colaborador do site Idivorciei (www.idivorciei.com.br), especialista em Saúde Mental.

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Luzes, festa e solidão

As luzes estão acesas, a cidade vibrante, nas ruas um certo frenesi, uma
aura de festa e de expectativas instauradas…

É o final de ano, é Natal, são as férias, é a possibilidade de descansar e de viver um pouco mais…

É tempo de se encontrar, de confraternizar, tempo de festejar…

Mas para alguns estes momentos não trazem bons sentimentos, traz exatamente o vazio de estar só, desacompanhado(a), separado(a), e todas estas festividades aumentam o sentimento de solidão.

Todas estas festas nos trazem um desejo nato humano, a busca por estar
em grupo, o desejo de pertencimento.

Uma das maiores buscas do homem é a busca pelo pertencimento, somos seres gregários e, como tal, estar inserido em grupos é também a busca por sobrevivência, ou seja, uma busca existencial.

Já as festividades e confraternizações que realizamos são os ritos de
passagem, de fato, não há uma mudança concreta entre um ano e outro,
mesmo assim, precisamos dessas simbologias para encerrar um ciclo, um
ano e iniciarmos um outro.

A sua capacidade de socialização e de relacionamento interpessoais diz
respeito sobre suas habilidades sociais, mas também sobre sua saúde
mental. Estar em conexão com outros nos traz sentido para vida.

Familiares e bons amigos são, sem dúvida, o que dão sentido ao pertencimento. Então se conecte com as pessoas, confraternize não só agora, mas sempre que tiver a oportunidade.

É tempo de participar, de se juntar, de acolher, tempo de viver, nem que
seja por um tempo, um tempo insuficiente. E que ao menos neste momento, sua solidão esteja distante e você esteja presente, para vida, para alguém.

Literalmente: se doe, como um lindo presente.

Daniel Lacerda
Psicólogo Clínico
Especialista em Saúde Mental

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